quinta-feira, 28 de junho de 2012

PERTO MAS... NÃO CHEGA!

Antes do mais dar os parabéns à Espanha. Mereceu, foi melhor, meteu o pé a fundo até ao final do jogo e teve o mérito de ganhar nos penaltis, com senso e sem tibiezas, apesar de ter falhado o primeiro. Até aqui se vê a fibra de um campeão! Casillas avançou para a baliza e defendeu limpinho, concentrado e sem vacilar.

Agora falo de Nós.

O jogo correu parcialmente como perspetivei no que respeita à pressão alta a forçar ao erro dos espanhóis e a dificultar ao máximo o momento de jogo em que se sentem mais confortáveis: o controlo de bola e a pressão alta sobre os adversários. Antes de nós só a Itália o tinha feito com (mais) sucesso.

Já na parte que perspetivei mas não apoiei, comprovou-se o porquê: a falta de eficácia na finalização não é compatível com quem quer ganhar títulos e jogar com Hugo Almeida ou (este ainda verde) Nélson Oliveira na frente hipoteca largamente a possibilidade de ganhar jogos que se decidem em detalhes. Com uma agravante, ontem Ronaldo voltou ao ritmo dos jogos com a Alemanha e a Dinamarca, individualista, pressionado e trapalhão na finalização. Ao melhor do mundo pede-se, naquele último lance do tempo regulamentar, que emende o mau passe do Meireles, não se precipite, tire o Piqué que já vem em desequilíbrio da frente e... dê a estocada final perfeita num jogo que diferenciava o melhor do mundo dos outros.... Ronaldo tem 27 anos e pensem, agora posso expor este pensamento que me ocorrera, no que seria chegar ao Brasil daqui a 2 anos com 29 a liderar a equipa campeã da Europa num Mundial realizado no maior resultado da nossa aventura dos Descobrimentos? E com a diáspora que por lá já temos e que vai crescer nos próximos tempos! Pois é, era o melhor do Mundo a integrar uma seleção finalmente vencedora!

Falhámos onde os campeões não falham e explico porquê:
 
1.   Como Del Bosque confessou no final a Espanha estava cansada e soube mitigar esse cansaço efetuando as substituições no momento certo, colocando inicialmente o Negredo para "bater" e depois colocando a "carne toda no assador", modificando totalmente a forma de jogar que passou a ocupar toda a largura do campo e não apenas o miolo, com as entradas de Fabregas (apenas aparente recuo pois teve mais posse e mais controlo mais próximo da nossa baliza), Navas e, especialmente, Pedro. Pedro e também Navas foram autênticas locomotivas a desgastar a nossa equipa. Como acima disse, a Espanha pôs o pé a fundo e só parou na vitória dos penaltis, tendo feito um prolongamento largamente dominador;
2.   E nós? Nós não soubemos gerir o jogo e o cansaço inicial dos espanhóis. E desperdiçámos essa mais valia ao atrasar as substituições e ao desgastar excessivamente a equipa quando os espanhóis colocaram toda a sua capacidade em campo. Paulo Bento não tem ainda a experiência do Del Bosque e tem que aprender que com teimosia em excesso vai em breve passar de teimoso a... burro. Saber ler o jogo é não insistir sistematicamente num sistema que se revela improdutivo e incapaz de aproveitar o que são as fraquezas do opositor. A falta de soluções no banco não é resposta porque estavam lá Varela, Quaresma e Custódio que, não sendo do mesmo nivel dos outros, têm valor para 30 minutos a fundo a ajudar a equipa;
3.   Paulo Bento deveria ter colocado o Varela e esticado ainda mais o jogo, colocando Ronaldo no meio para não o desgastar mais a defender e ter maior capacidade de finalização (sim, Ronaldo, mesmo falhando mais que o normal no Real continua a ser o nosso melhor finalizador, devia ter sido apontado à baliza sem mais preocupações). Como ele próprio (PB) reconheceu, no prolongamento não fomos capazes de contrariar o domínio espanhol e passar o jogo para lá da barreira do meio campo deles. Resultado, Nelson Oliveira entrou para nada e Ronaldo não mais teve bolas;
4.   Sempre disse e agora reitero, com Varela na ala a poupar Ronaldo e a segurar um dos laterais espanhóis e com Nani mais cedo no meio (como o Paulo Bento fez mas já numa fase de grande desgaste, reitero) Portugal teria continuado a desgastar os espanhóis e estaríamos, provavelmente, agora a comemorar uma vitória histórica sobre uma das melhores seleções da História e, sobretudo, o inicio de um novo ciclo;
5.   Em suma, entrada de Varela para o lugar de Hugo Almeida na altura da hora de jogo e, na manutenção do 0-0, aos 80 minutos, colocação de Nelson Oliveira, saindo o Meireles, passando o Nani a jogar mais por dentro e ficando o Varela a segurar o Alba (que fez um jogo espantoso) e o Ronaldo solto, entre o Arbeloa e o Piqué, claramente onde os espanhóis mais baqueavam. Verticalizámos o jogo, ficávamos ainda com uma substituição por fazer e o Paulo Bento poderia gerir o jogo em função do resultado.

Com isto teríamos mantido na mensagem do banco para o campo e, principalmente, para os espanhóis, de que estávamos ali para jogar olhos nos olhos (como o Paulo Bento tanto afirma) até final.

Assim, perdemos a vantagem anímica e o cansaço ficou igual para ambos com uma diferença, os espanhóis já saborearam a vitória e isso dá-lhes o animus extra para... aquele passo que faz os campeões. Não foi no prolongamento, foi nos penaltis, foi justo e há que aprender com os erros, a começar pelo Paulo Bento. Uma vez mais perdemos a nossa oportunidade... e isto não pode tornar-se um fado! No momento da decisão há que dar a estocada final, sem hesitar, tendo bem presente o nosso objetivo: Ganhar (que não a todo o custo, atenção)! Respeitando o oponente e a verdade do Jogo, obviamente!

Critico a ideia de que a nossa bola bateu na barra e saiu e a deles bateu e entrou. A sorte somos nós que a fazemos e ontem não a fizemos porque eles foram melhores, especialmente no prolongamento porque o Del Bosque soube jogar bem no banco na altura certa.

Mas que balanço fazer deste Europeu?

Ganhou-se uma equipa, um grupo, apesar de se ter ganho apenas um jogo "a sério" (contra a Holanda) e empatado e perdido contra duas equipas da nossa igualha (Espanha e Alemanha, respetivamente), com o devido respeito por Dinamarca e Rep. Checa.

Sinceramente penso que o grupo que temos é restrito e pouco mais se poderia fazer em termos de atitude e espirito de equipa e carácter. Com isso superaram-se fragilidades individuais e mitigou-se o grave problema que é o campo de recrutamento exíguo que a seleção tem. E vai piorar! Nomeadamente, para atacar isto, dever-se-ia obrigar as equipas "B" a jogar exclusivamente com portugueses. É tema para outro post.

Também o Paulo Bento cresceu e será mais forte de futuro, mesmo tendo um campo de recrutamento mais reduzido. Há que apoiar o selecionador, apontando de forma construtiva os erros e colaborar para a melhoria de todos os aspectos que rodeiam a selecção, desde a organização da estrutura federativa aos clubes, passando por aspectos logisticos que rodeiam estas grandes competições.

Honraram Portugal, é inegável. Estamos entre os 4 melhores da Europa. Assim estivéssemos noutras áreas da nossa vida e tivéssemos este critério de exigência para outros que influeciam muito mais a nossa vida diária (envergonhamo-nos todos da classe que miseravelmente nos consome recursos e se governa às nossas custas)... Foram um exemplo e que Todos aprendamos com isso.

VIVA PORTUGAL, obrigado Rapazes!

P.S.: Hoje não dou de barato a vitória da Alemanha, bem pelo contrário, perspetivo que a equipa mais evoluída taticamente deste Europeu, a Itália, com Chielini e De Rossi recuperados, faça uma "surpresa" e chegue à final. Logo veremos porque o futebol tem este fascínio. Com vitórias ou derrotas, há sempre o próximo jogo e esse é sempre, mas sempre, o mais importante!

Luís Rasquete

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