quarta-feira, 4 de julho de 2012

A HISTÓRIA DIANTE DE NÓS, QUE PRIVILEGIADOS SOMOS!

Proponho a todos que leiam a resposta que o Iniesta deu quando lhe perguntaram se queria ganhar a bola de ouro para perceberem o que está verdadeiramente por trás do sucesso da Espanha, a equipa mais ganhadora da história que fez História e vai ficar na História não só pelos resultados mas também pela revolução no futebol... é formidável e somos todos uns imensos privilegiados por testemunhar estes momentos.

Iniesta, para quem não sabe, chegou muito cedo a Barcelona apenas porque... era, aos 12 anos, o melhor amigo de um miúdo que todos consideravam um génio em potência (e o Barça, e bem, quis dar a esse miúdo todas as condições para se sentir bem, integrado e confortável com a revolução que a sua vida estava a ter e então contratou o Iniesta também, a pedido do dito miúdo) e do qual o Sergio Ramos (do Real Madrid) afirma "se há algo que temos de Único é o Iniesta!".

Ora, Iniesta disse, quando questionado sobre se almejava ganhar a bola de ouro: "Não jogo para ganhar a bola de ouro. Jogo porque isso me faz feliz!" (foi mal traduzido pelos media portugueses, mas adiante...). Mais puro que isto ou maior devoção à arte sem reservas, sem a subverter ou convertê-la a um mero expediente para atingir esses tão "nobres" fins como contratos milionários ou visibilidade social, não conheço, sinceramente. É uma filosofia de vida, pronto. Joga porque isso o faz feliz e é assim que se sente realizado, desprezando os troféus, a visibilidade, os contratos milionários, a competição com os outros. Sente-se intrinsecamente feliz naqueles momentos em que joga, ali está o seu maior troféu, a sua perfeita recompensa! De tempo a tempo há gente assim, por estranho que pareça nesta sociedade que faz tudo para premiar a notoriedade, a visibilidade, desvirtuando outros fins que não o dinheiro, o poder e a visibilidade social.

Que parvo é o Iniesta que "se basta" a dar uns pontapés na bola e não se serve desse imenso talento para obter outras coisas tão socialmente valorizadas. É um parvo, obviamente. Tal como era outro que foi piloto de corridas (e conseguiu, imagine-se, correr na formula 1), de nome Ayrton Senna, que era parvo ao ponto de dizer que não corria contra os outros, corria contra si mesmo! E teimava em ir para a pista sozinho fazer as que ficaram baptizadas como "voltas-canhão" nas qualificações para os grandes prémios.

É assim, quando o nosso maior adversário, somos nós mesmos e, em simultâneo, tudo o que precisamos para ser felizes está em nós, relativizamos um pouco o mundo que nos rodeia e, paradoxalmente, neste individualismo extremo da auto-superação acabamos por dar aos outros o melhor de nós, fazendo o mundo avançar verdadeiramente por batermos recordes, por superar marcas, limites, os NOSSOS limites individualmente considerados, desde logo. É estranho, de facto. Que parvos são os Iniestas e os Sennas desta Vida... ou talvez não!...  

Será possível ultrapassar este estado sublime a que chegou o futebol espanhol? Sim, é possível mas para tal há que ter presente pressupostos como a verdade, a entrega, a lealdade, a comunhão, a amizade, a fraternidade, o espirito de sacrifício da individualidade em prol do bem comum (como quando o Xavi, cansado, na 2ª parte do jogo com Portugal pediu humildemente para ser substituído), o respeito pela hierarquia, a confiança cega no próximo, em suma, a auto-superação individual em prol da realização individual que reverte para o grupo verdadeiramente unido com um objectivo, sem queimar etapas, sem subverter ou alienar valores, sem mentiras ou truques manhosos e, tendo estes pressupostos presentes, dar o passo em frente. É difícil não é? Lá está, foi feita História e somos todos uns privilegiados por termos testemunhado a História a fazer-se de uma forma tão sublime.

Luís Rasquete