segunda-feira, 6 de junho de 2011

RICKY VAN WOFLSWINKEL, A MUDANÇA DO RUMO?

Factos:

Nome: Ricky Van Woflswinkel;
Clube: FC Utrecht (Holanda);
Idade: 22 anos;
Altura: 1,85;
Peso 69Kg;

Jogos em 2010/2011:

Liga Holandesa:
·        29 jogos;
·        26 vezes titular e 19 totalista;
·        7 vezes substituído e 3 vezes suplente utilizado;
·        15 golos/ 3 assistências;

Liga Europa (incluindo fase de qualificação):
·        12 jogos;
·        12 vezes titular e 9 totalista;
·        3 vezes substituído;
·        8 golos/0 assistências.

Internacional "A" holandês, tendo feito também todas as categorias de formação nas selecções, com 7 golos em 19 jogos, a partir dos sub-19.
  
A Holanda é indubitavelmente uma das mais fortes escolas de formação táctica da Europa (a escola do Ajax é indirectamente "mãe" do modelo de jogo do Barcelona), com jogadores de grande expressão mundial espalhados pelas melhores equipas da Europa. É a 1ª linha da Europa em termos de formação. As selecções da Holanda são, em todos os escalões, garantia de qualidade, competitividade e espectáculo.

Valor de mercado: +/- 3,5 milhões €;

Comunicado à CMVM:  

Análise:
  
Previamente a qualquer consideração acerca do valor do jogador importa salientar o seguinte:

·  A contratação não foi noticiada/fotonovelada antes de   concretizada;
·  Adquiriu-se a totalidade do passe do jogador;
·  Trata-se do 1º jogador europeu contratado pela Direcção de Godinho Lopes.

Ricky Van Wolfswinkel afirmou, na apresentação, ser uma honra representar um grande clube como o Sporting, estar orgulhoso pelo interesse do Sporting e desejar ganhar títulos em Alvalade.
  
Atenção, estamos a falar de um jogador que é recém-internacional "A" holandês e que vê no Sporting uma porta para ascender na carreira, para progredir em termos de competências competitivas, para enriquecer o palmarés pessoal.

Este facto não se pode dissociar da vinda de Marco Van Basten a Portugal no recente período eleitoral do clube e o bom impacto que tal vinda teve no meio futebolístico holandês. Afinal, Portugal pode ser uma saída profissional interessante para profissionais holandeses, ambiciosos e com curriculum.

Passando à descrição do jogador, refira-se que não vale, para já, os 5,4 M€ pagos 100% pelo passe mas, ao contrário de Carrillo, concordo com o valor pago dado que: 

1. É europeu, está familiarizado com o futebol, o clima, o ritmo de jogo e o modelo competitivo;
2. Vem da 1ª linha do futebol de formação europeu, com rótulo de qualidade em termos tácticos, desde logo porque fez todos os escalões de formação nas selecções, tem pedigree, está às portas de uma selecção que joga habitualmente as grandes competições;
3. Não vai sentir significativamente a diferença de ritmo entre a Liga Holandesa e a Liga Portuguesa, jogando já há mais de 4 anos ao mais alto nível no seu país, com mais de 90 jogos disputados e 30 golos marcados, numa média de 1 golo a cada 3 jogos mas com o acréscimo de ter marcado metade dos golos na última época, isto é, em cerca de 30 jogos marcou 15 golos, o que indicia progressão competitiva clara, baixando o ratio para 1 golo em cada 2 jogos;
4. Perante estes números, pode dizer-se que sendo os 5,4 M€ um valor avultado (pode-se mesmo dizer que por esse valor se poderia atacar outros nomes mais conhecidos, mas isso é outra conversa...) eles indiciam uma política de investimento num valor emergente de um mercado sólido  (conhecido pela maioria dos clubes do topo da cadeia alimentar da Europa)  o qual, sendo rentabilizado (isto é, marcando cerca de 20 golos numa época em Portugal) terá um retorno garantido em termos de mercado, senão nos 22 M€ da cláusula de rescisão, pelo menos num valor que compense, sem grande esforço, o investimento feito (massa salarial incluída a qual sendo não poucas vezes subestimada acaba por representar a maior fatia do encargo de uma contratação);
5. Deste ponto de vista concordo totalmente com a contratação do atleta porque alia mais valia em termos competitivos (pela origem), porque não vai certamente exorbitar o tecto salarial previsto (é jovem, está a emergir) e também porque vem fortalecer uma posição na qual o plantel apresenta claras carências, o que em meu entender não invalida a necessária contratação de um jogador mais experiente porque não se pode fazer recair sobre as costas de um jovem de 22 anos na primeira aventura fora do seu país a responsabilidade de comandar, sem oscilações de ritmo, o ataque de um clube que pretende lutar por títulos como a Liga Portuguesa;
6. Não se pode deixar de observar que valores como Baldé deverão continuar a merecer acompanhamento, se possível no mercado nacional e que a contratação do avançado holandês significa presumivelmente o fim da linha para Saleiro no plantel, a que titulo (definitivo ou por empréstimo) em breve se saberá. Mas Saleiro não se poderá queixar de falta de oportunidades e se vingar noutras paragens tal deverá ser sempre motivo de regozijo para a Formação do Sporting, quem sabe até perspectivando um eventual regresso;
7. Mas o que representa a contratação de Ricky Van Wolfswinkel? Representa a necessidade de jogar com extremos, indubitavelmente! O avançado holandês movimenta-se sobretudo dentro da área, jogando a poucos toques, finalizando com ambos os pés, não tendo um rendimento tão elevado no jogo aéreo (o que deverá ser trabalhado) ao que se junta fraca capacidade de choque. Este afigura-se como o grande calcanhar de Aquiles do jovem holandês porque 70 kgs para um corpo com 1,85 m é manifestamente insuficiente para um futebol que se faz em campos difíceis no Inverno (ainda que curto mas é no período de fins de Outubro a Março que se decide o campeonato) e com defesas duros. A mobilidade e poder de antecipação são pontos fortes mas insuficientes para a constância que se pretende quando a equipa tiver que encostar, desgastar fisicamente as equipas adversárias, em suma, ganhar também o jogo no confronto físico, voltando-se aqui à questão da baixa estatura e peso do plantel do Sporting;
8. A forma de jogar leve, a fugir ao choque (a fazer lembrar jogadores como Domingos Paciência, Paulinho Cascavel ou Rui Águas), não me enche as medidas, confesso, mas tal não inibe o mérito da opção por este tipo de jogador pelo que acima escrevi, desde que se lhe dê condições para vingar;
9. Sendo mais objectivo, se houver coerência na construção do plantel tendo por base um sistema de jogo mais europeizado que privilegie as características dos jogadores contratados e sendo estes igualmente europeus ou de matriz futebolística mais adaptada ao futebol europeu, a margem de erro diminui e aumenta a possibilidade de obter sucesso, ganhar competições, rentabilizar activos, atrair investidores para fundos, etc.;
10. Neste contexto, os próximos capítulos em termos de contratações virão ou não confirmar esta mudança de rumo, no sentido de europeizar o futebol do Sporting, dar-lhe outra cultura táctica, competitiva, construir condições para o sucesso desportivo com base num projecto e não em tiros no escuro, oportunisticos, dependentes de outros interesses que não forçosamente os do Sporting;
11. Para já, Ricky Van Wolfswinger, pelo pedigree, pela origem, é uma brisa de esperança.

Luís Rasquete
 

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