A forma como está a ser gerida a sua situação pelo Sporting revela pelo menos duas das causas do Clube ter chegado onde chegou: falta de liderança e de capacidade de gestão. Explico:
Factos:
- Pouco depois da chegada do ex-director para o futebol, Costinha, este envolveu-se num conflito com Izmailov cujas causas radicam em questões de empresários (Jorge Mendes vs Paulo Barbosa, que se estendeu a outros jogadores do plantel como Caneira);
- Izmailov recusou jogar na jogo da 2ª mão dos oitavos de final da Liga Europa, contra o Atlético de Madrid;
- Izmailov mentiu ao clube afirmando que se encontrava em Lisboa quando de facto voou para Moscovo;
- O Sporting aplicou uma sanção ao jogador que este contestou judicialmente com o apoio do Sindicato dos Jogadores;
- O referido processo judicial foi arquivado por ter sido alcançado acordo entre o Clube e o jogador, tendo este desistido da acção;
- O jogador tratou a lesão da qual padecia à revelia do Clube, vide afirmações do então treinador Paulo Sérgio e do médico do clube, Gomes Pereira, afirmando desconhecer o paradeiro do jogador bem como a forma como recuperava da lesão;
- O regresso de Izmailov a Alvalade é contemporâneo com a saída de Costinha, encontrando-se o jogador na fase final de recuperação da lesão e integração no grupo de trabalho;
- A 26/04 a Sporting SAD comunica à CMVM a renovação do contrato de Izmailov até 2015 com aumento do valor da cláusula de rescisão de 25 M€ para 30 M€, nada se referindo relativamente às condições contratuais do jogador;
Análise:
1. O valor do jogador nunca esteve ou estará em causa mas o precedente aberto em termos disciplinares com a gravidade que reveste este caso não permitirá a existência de uma relação salutar entre o jogador e a entidade patronal;
2. Tal servirá de exemplo também para os restantes jogadores do plantel;
3. Com a agravante que o jogador viu o contrato renovado e a cláusula de rescisão contratual aumentada. Não teve melhoria salarial? Fica a questão.
4. O foco da questão é este: há lastro anímico (endógeno, de cada um dos jogadores) e relacional (entre grupos que se foram formando no plantel) que deriva das experiências traumatizantes que todos têm tido e quando essas experiências alcançam uma determinada amplitude, uma determinada gravidade como agora se verificou pelos factos acima descritos, atinge-se um ponto de não retorno;
5. O que resta? A difícil tarefa de quem lidera assumir que se deve inverter o rumo, dar o exemplo e não permitir que, independentemente das responsabilidades concretas, o Sporting se faz respeitar relativamente a todos, funcionários ou interlocutores externos, com todos os custos que tal envolva porque no futuro (aqui entra a gestão) tal trará inevitavelmente proveitos, quanto mais não seja no amor próprio, na dignidade, no respeito interno e para o exterior, na manutenção de um registo disciplinar interno que se quer integralmente cumprido sob pena de se ser complacente com manifestações de má formação e educação como as vistas no jogo com o Portimonense que só prejudicam uma entidade: o Sporting Clube de Portugal;
6. E Izmailov? Haveria que encontrar uma solução pacifica para ambas as partes, com dignidade, com o respeito possível atenta a conjuntura envolvente e tratar de transferir o jogador para um clube sempre no exterior, com as mais valias possíveis e reinvestir esse valor noutra solução desportiva acautelando que quando se contrata um jogador se contrata também o Homem, o seu empresário, etc;
7. O Sporting precisa mudar de página, de uma renovação de fundo, exactamente na mesma lógica da renovação de ciclo quando uma equipa portuguesa consegue o milagre (lá está) de ganhar uma prova europeia. É que neste caso, pela positiva, os jogadores ganham grande visibilidade, há a possibilidade de fazer excelentes contratos e o clube português que, recordo, está (sendo optimista) no meio da "cadeia alimentar" em termos de competitividade financeira no ranking europeu, pode alavancar meios para renovar a equipa sem ficar com insatisfeitos ou aziados;
8. No caso do Sporting, manifestamente até pela saturação da massa associativa, a azia está do lado de cá das bancadas e a manutenção da maioria dos jogadores, independentemente do valor deles, é um erro estratégico porque se vai andar a tentar construir sobre algo que de raiz, reitero, não é salutar no sentido de estar despoluído do tal lastro anímico e relacional e das memórias negativas. Ao mínimo falhanço, lá vêm as memórias...
9. Há que ter coragem de fazer de novo e manter apenas aqueles que podem ajudar a construir o futuro integrando mesmo alguns deles os alicerces dessa estrutura, como o Patrício (até pela perspectiva da titularidade na selecção e um factor nuclear que o Sporting não devia perder e que o Porto e o Benfica já não têm: preservar a maioria dos jogadores portugueses de qualidade como factor identificativo com o País e os Jovens que procuram um Grande!);
10. E nisto, a perspectiva não é apenas render mais, é sim render ao nível compativel com a história do Grande Sporting Clube de Portugal!
Luis Rasquete
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